quinta-feira, 29 de março de 2007

Contemporâneo





Por: Alessandra


“Pode-se viver o tempo historicamente ou filosoficamente, de ambos os modos o mesmo tempo ou de nenhum deles.”
Marx



O tempo é pessoal e indiscutível. Pessoas contemporâneas podem viver em tempos diferentes, pois o tempo reside dentro de cada um. É preciso que cada um tenha seu tempo, para que os momentos possam ter um sentido único para cada participante, para que as obras possam gerar impressões indescritíveis e inigualáveis em cada um.

A exposição Contemporâneo – Arte no Brasil 1981-2006, em cartaz na cidade, traz ao público paulistano essa dualidade do tempo. Com 127 obras do acervo do Instituto, dos últimos 25 anos, essa mostra tem como objetivo instigar à reflexão sobre arte contemporânea na atualidade e suas formas de apresentação, sob a idéia geral de que a beleza persiste nas diversas formas.

No andar térreo foi montado um cronograma com a história das exposições realizadas pelo Itaú Cultural nos últimos anos. Além do colorido vibrante, o que atrai os visitantes são as abordagens multimídia, como uma reprodução virtual de como teria sido a Av. Paulista em 1919. No meio da sala de exposição há convidativos puffs com fones para se ouvir estações experimentais, criadas a partir de obras dos projetos anteriores, e uma maquete geral com áudio do curador.

Contemporâneo abriga muitas obras abstratas. A arte abstrata busca ser universal, capaz de ser apreciada em todos os lugares e em todos os tempos. Ela é o símbolo da contemporaneidade absoluta. Onicontemporaneidade. Fim dos tempos, fim da história.

Em uma sala espelhada, no primeiro subsolo, estão “variações da razão pura” - obras geometricamente baseadas. Do outro lado oposto nos deparamos com o abstracionismo nos campos da cor.

No segundo subsolo, há a sala Icônica que busca deixar a sensibilidade sensorial pela geral, partindo do pressuposto de que “onde prevalece a vontade de potência se exige participação do espírito”. Dentre as obras neste nível dêem uma atenção especial a obra COPAN, de 2003, que de relance parece um simples rascunho, mas é formada por algarismos numéricos de forma artesanal. Ainda neste espaço estão abrigadas as antiformas e os não-objetos. Formas livres do contexto e de si mesmas, são dispositivos para o esquecimento que só existem uma vez. Dentre elas é imperdível ALFABETO, de 1994,obra em madeira que traz surrealmente um alfabeto de símbolos abstratos, que parece absurdo a princípio, mas como tantas outras coisas, poderia ser...

No andar superior “Arte como Arte”, onde se concentram a maioria das telas, com fundo sonoro. Na linha da idéia, tudo pode ser tema de arte. Com diversos tipos de linguagem, as obras permitem várias releituras e associações. Vale conferir Os EXCLUÍDOS, tela onde, a partir de uma fotografia antiga, o artista recria o que poderia ter sido a vida daquele homem. A sessão Inflexão lembra obras pesadas, assemelhadas à instrumentos de tortura, e parece um pouco deslocada em meio a leveza da exposição.

E antes de entrar, não deixe de reparar no exterior do prédio, uma das obras de arte está ali, escapando... ou saindo... ou voando... observe novamente depois que sair.

A exposição fica em cartaz no Itaú Cultural, na Avenida Paulista, até o dia 27 de maio de 2007, de terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h, e a entrada é franca. Juntamente com a exposição, o centro recebe o festival de filmes “É tudo verdade”, num projeto integrado com outras salas da cidade e também gratuito. Vale a pena conferir.


“Toda arte é contemporânea” - ou melhor, “a boa arte é contemporânea” porque conversa com todos e ultrapassa seu tempo.”
Teixeira Coelho - curador

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