domingo, 27 de maio de 2007

Domingo de Conto


por Jonas Souza


Armando Nogueira


Nasceu em Xapuri, no Acre, em 1927. Com 17 anos foi para o Rio de Janeiro. Formou-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Em 1950, começou a carreira de jornalista no Diário Carioca. Foi repórter, redator e colunista. Trabalhou na Revista Manchete, como redator-principal, na gestão de Otto Lara Resende. Em O Cruzeiro, foi repórter fotográfico de 1957 a 59. Em 1959, entrou para o "Jornal do Brasil", onde foi redator e colunista. Lá, de 1961 a 1973, assinou a coluna diária "Na Grande Área". Como repórter, fez a cobertura de todas as Copas do Mundo a partir de 1954. Começou no telejornalismo em 1959, na antiga TV-Rio, canal 13.


De 1966 a 1990 foi diretor da Central Globo de Jornalismo da Rede Globo de Televisão, onde dirigia também a Divisão de Esportes. Participa da cobertura dos Jogos Olímpicos desde 1980, em Moscou.

Nos de Barcelona, em 92, integrou a equipe da Rede Bandeirantes de Televisão. Esteve nas Atenas nas olimpíadas de 2004 pelo canal SPORTV / Globosat onde atualmente apresenta o Programa " Papo com Armando Nogueira" e participa, toda quarta feira, do programa " Redação SportTV". Na rádio participa de segunda à sexta - salvo a terça feira - do programa CBN BRASIL, às 12:45 do programa CBN Brasil, do jornalista Carlos Sardenberg.

Sua coluna "Na Grande Área", inicialmente publicada pelo Jornal do Brasil, firmou-lhe a reputação de jornalista, através de uma abordagem nova do futebol, tendo como suporte um estilo muito pessoal. Um estilo em que a qualidade literária não inibe a empatia com o leitor. Atualmente, o conteúdo de sua coluna é publicada no site www.armandonogueira.com.br, do qual o jornalista é, também diretor. O site é feito com a intenção de recriar, na intimidade da tela do computador, o mundo fascinante do esporte e da cultura.

Na direção da Xapuri Produções , Armando Nogueira tem realizado vídeos institucionais para diversas empresas brasileiras e feito palestras motivacionais para grandes equipes de trabalho.
ARMANDO NOGUEIRA é autor de dez livros, todos sobre esporte: Drama e Glória dos Bicampeões (em parceria com Araújo Neto); Na Grande Área; Bola na Rede; O Homem e a Bola; Bola de Cristal; O Vôo das Gazelas; A Copa que Ninguém Viu e a que Não Queremos Lembrar (em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert), O Canto dos Meus Amores; A Chama que não se Apaga, e o mais recente A Ginga e o Jogo.

Suas crônicas são Incluídas em antologias dos melhores cronistas brasileiros e alguns de seus livros são adotados nos cursos de Língua Portuguesa e de Literatura do segundo grau e no circuito universitário brasileiro.


Agora uma crônica deste grande homem da hístória do esporte e do jornalismo brasileiro (o único que foi a todas as copas em loco desde 1950).


“A Ultima Noite”


“Maracanã, enfeita de bandeiras tuas arquibancadas que hoje é dia de festa no futebol. Encomenda um céu repleto de estrelas. Convida a lua (de preferência, a lua cheia). Veste roupa de domingo nos teus gandulas. Põe pilha nova no radinho do geraldino. E, por favor, não esquece de regar a grama (de preferência, com água-de-cheiro).


Avisa a multidão que ninguém pode faltar. É despedida do Zico e estou sabendo, de fonte limpa, que, hoje á noite, ele vai repartir conosco a bela coleção de gols que fez nos seus vinte anos de Maracanã.


Eu até já escolhi o meu: quero aquela obra prima, o segundo gol do Brasil contra o Paraguai na eliminatória do mundial de 86. Me lembro como se fosse hoje. Zico recebe de Leandro um passe de meia distância já na linha média dos paraguaios.


Um efeito imprevisto retarda a bola uma fração de segundo. Zico vai passar batido - pensei. Pois sim. Sem a mais leve hesitação, sem sequer baixar os olhos, ele cata a bola lá atrás com o peito do pé, dá dois passos e, na mesma cadência, acerta o canto esquerdo do goleiro paraguaio.


Passei uma semana vendo e revendo no teipe aquele instante mágico de um corpo em harmonioso movimento com o tempo e com o espaço. E a bola, coladinha no pé, parecia amarrada no cadarço da chuteira.Um gol de enciclopédia.


Se o amável leitor aceita uma sugestão, dou-lhe esta: escolha um dos gols que Zico fez graças a sua arte singular de chutar bola parada.Chutar a bola de falta á entrada da área é um talento que Deus lhe deu, mas não de mão beijada como imaginam os desavisados. Zico trabalhou seriamente, anos e anos, para alcançar a perfeição dos efeitos sublimes.


À tardinha, quando terminava o treino, ele costumava ficar sozinho no campo do Flamengo - ele, uma barreira artificial, uma bola e uma camisa caprichosamente pendurada no canto superior das traves. A camisa era o alvo.


Zico passava horas sem fim, chutando rente á barreira e derrubando a camisa lá de cima das traves.Chegava o domingo, na cobrança da falta, a bola já estava cansada de saber onde ela tinha que entrar.


Não tenho dúvida em dizer que tardará muito até que apareça alguém que domine como Zico o dom de cobrar falta ali da meia-lua.


Celebremos, querido torcedor, a última noite do maior artilheiro da história do Maracanã. Será uma despedida de apertar o coração. Se te der vontade de chorar, chora. Chora sem procurar esconder a pureza da tua emoção. Basta uma lágrima de amor para imortalizar o futebol de um supercraque.


Cantemos, Maracanã, teu filho ilustre, relembrando em comunhão os dribles mais vistosos, os passes mais ditosos, os gols mais luminosos desse fidalgo dos estádios que tem uma vida cheia de multidões.


Louvemos o poeta Zico que jogava futebol como se a bola fosse uma rosa entreaberta a seus pés.”

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