domingo, 6 de maio de 2007

O Apanhador de Contos.






por Jonas Souza



J. D. Salinger é um mestre na criação de tipos infantis. Holden Caulfield, protagonista de "O Apanhador no Campo de Centeio" (The Catcher In The Rye), não é outra coisa que não um pirralho, com as percepções, reações emocionais e escala de valores típicas de um pirralho. Ele, que vive se contradizendo em suas próprias palavras ou ações (por exemplo, ele diz que odeia cinema mas vai direto ver filmes). Se mostra muito pirralho também na sua visão de sexo, quando pergunta a uma amigo mais velho o que ele costuma fazer com sua namorada na cama. Não que eu esteja dizendo que o livro é ruim. Muito ao contrário ele é fabuloso.
Holden é o típico anti-heroi para que todos torcem (um antepassado do Sawyer, talvez).

Bom, eu estava falando sobre a grade capacidade de J.D. Salinger na criação de tipos infantis. Isso fica explícito em seu volume de contos Nove Histórias (Nine Stories). Lançado originalmente em 1953, o livro é fantático. De seus nove contos, cinco eu considero obras-primas: o enigmático Um dia perfeito para peixe-banana, que abre o livro; Pouco antes da guerra com os esquimós; Para Esmé, com amor e sordidez (a edição britânica de Nine Stories foi batizada com esse título, coisa que enfureceu Salinger); Lindos lábios e verdes meus olhos; Teddy.

Um dia perfeito para peixe-banana, o melhor texto do livro, conta a história de Seymour Glass, um que está passando férias na Flórida com sua mulher, Muriel. A primeira parte do conto é um diálogo telefônico entre Muriel e sua mãe, em que ficamos sabendo que Seymour teve um colapso nervoso ao voltar da guerra. O cara é doido mesmo - entre outros mimos, costuma chamar a própria esposa de "Miss Vagabunda Espiritual 1948". A segunda parte é um diálogo que Seymour tem na praia com uma garotinha chamada Sybil, que também está hospedada no hotel. Sybil é perceptiva, inteligentíssima, imaginativa e egocêntrica em extremo. Vejam só:

- A Sharon Lipschutz disse que você deixou ela sentar no banco do piano ao teu lado. - Sybil diz.
- A Sharon Lipschutz disse isso?
Sybil assente vigorosamente com a cabeça.
Seymour solta os tornozelos de Sybil, recolhendo as mãos, e deita o lado do rosto sobre o antebraço direito. Diz:
- Bem, você sabe como são essas coisas, Sybil. Eu estava sentado lá, tocando. E você nem estava por perto. E a Sharon Lipschutz veio e se sentou ao meu lado. Eu não podia empurrar ela pra fora, podia?
- Podia.
- Ah, não. Não podia fazer isso. Mas eu te digo o que é que eu fiz.
- O quê?
- Fiz de conta que ela era você.
Sybil imediatamente se curva e começa a cavar a areia.
- Vamos para a água. - ela diz.
- Está bem. Acho que a gente pode dar um jeitinho nisso.
- Na próxima vez, empurra ela pra fora.

Jerome David Salinger nasceu em Nova York, a 1o. de janeiro de 1919. Não publica nada desde 1965, quando a New Yorker lançou seu conto Hapworth 16, 1924. Vive recluso numa chácara em Cornish, New Hampshire. Não dá entrevistas, nem se deixa fotografar. Sua ex-namorada, Joyce Maynard, que escreveu um ridículo volume de memórias chamado Abandonada no campo de centeio, disse que uma época Salinger bebia o próprio xixi - com finalidades terapêuticas, é claro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que criativo o teu comentário, tão criativo que o encontrei exatamente igual neste site: http://www.eduardohaak.kit.net/salinger.html :O. Pode-se perceber que os fãs de Salinger gostaram mesmo de suas críticas ou será que foi o contrário?
Mistério!!!